Investigação e(m) Arte: Perspectivas

Resumos

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RESUMOS DAS COMUNICAÇÕES

“O que é e para que serve a investigação em arte” – Clara Menéres

Considerando os vários domínios do saber verificamos que na actualidade a área científica é, entre todas, predominante. Por esse facto, temos hoje nas Universidades Conselhos Científicos, mesmo naquelas em que não se ensina ciência, e um organismo de cúpula para regular e financiar os mais sofisticados meios e projectos do ensino superior: a FCT. A Fundação para a Ciência e a Tecnologia veio substituir o antigo Instituto de Alta Cultura - extinto em 1976 - cujos objectivos eram: concorrer para o desenvolvimento e aperfeiçoamento da cultura superior e da cultura artística, da investigação científica e das relações culturais com o estrangeiro e difusão da língua e cultura portuguesas .

É óbvio que o mundo mudou e que a linguagem reflecte os novos conceitos e as ideologias mais influentes. No entanto, reduzir a prática milenar das artes à investigação de tipo científico, é um excesso. Para que tal não suceda, é necessário explicar com clareza o que pode e deve ser a investigação em arte para que os métodos e os processos da criação não sejam confundidos com os científicos, o que certamente iria desvirtuar as características do domínio artístico. Compete sobretudo aos artistas e criadores elaborar uma reflexão teórica sobre o seu trabalho porque só eles podem determinar a sua especificidade. O meu objectivo é contribuir para esta teorização.

 “Investigação em Interpretação Musical: Paradigmas e o conceito de narrativas múltiplas”  - Eduardo Lopes

Sendo um caso pioneiro em Portugal, a abertura de uma especialidade de Interpretação no doutoramento em Música e Musicologia da Universidade de Évora, originou uma contínua reflexão sobre esta área artística na nossa actividade de investigação musicológica. A nível internacional, desde já algumas décadas que a interpretação musical é uma especialidade da investigação em música, tendo origem em princípios pós-modernos que apontaram a necessidade de um certo reposicionamento da retórica sobre a música, até ali mais centrada no texto musical (i.e. partitura). Este reposicionamento visava sobretudo um equilíbrio dentro da investigação musicológica (tradicional) - esta mais focada em aspectos históricos da música e da sua teoria - para parâmetros mais próximos da experiência musical; visando assim uma postura mais inclusiva e incorporando perspectivas metodológicas de largo espectro. Esta palestra focar-se-á numa breve apresentação da problemática da investigação musicológica e em particular da interpretação musical, sugerindo uma construção conceptual que no seu cerne agrega mecanismos que facilitam a integração de várias narrativas e perspectivas metodológicas, exercitando deste modo uma nova descrição da experiência musical.

"A investigação em Artes: da arqueologia de uma prática à origem de um problema"  - Paulo Simões Rodrigues
 A Arte, antes e a par da ciência, sempre contribuiu para a exploração, a formação e a compreensão do mundo em que vivemos. Sempre foi uma forma de construir e conhecer esse mundo, de ligar realidades distintas e de aceder a dimensões do conhecimento diferentes ou complementares das abrangidas pela ciência, da qual frequentemente se alimentou ou para a qual contribuiu tornando tangível o intangível. Em cada um desses processos, a investigação, de carácter mais empírico ou teórico, sempre foi um procedimento estruturante. O que mudou então para que a investigação em Artes seja hoje debatida como um problema? A presente comunicação prentende colocar à discussão a tese de que a raíz desse problema não está numa suposta especificidade da investigação em Artes, mas na integração destas, e das práticas de pesquisa que lhe são próprias, num sistema académico-universitário em que a apresentação, o debate e a validação das metodologias e dos resultados deverão seguir uma formatação nem sempre compatível com a individualidade, e no limite com uma legítima idiossincrasia, de alguns dos processos criativos. No entanto, é essa formatação que garante que os resultados e as metodologias seguidas tenham um impacte directo no sistema de ensino e investigação, o que não invalida a procura de modelos alternativos de disseminação do conhecimento nestas áreas.

“Do Ensino à Investigação e Arte”  - Filipe Rocha da Silva
 O objetivo da minha comunicação será refletir sobre o tipo de evolução, nos cerca de 25 anos que nos separam da data da Integração das Belas Artes e Arquitectura na Universidade, que conduz à disseminação dos Doutoramentos em Artes Visuais, com particular incidência naqueles em que a componente prática é primordial.
 A estrutura universitária foi-se acomodando, com manifesta incomodidade, à presença crescente desse domínio que antes era considerado como sendo essencialmente técnico, e essa integração contaminou as áreas superiores do ensino universitário, o 3ºs Ciclo.
 Este movimento traduz uma abertura da universidade às formas específicas do saber artístico, mas também uma confluência entre a Arte e os domínios que eram antes considerados teoria e ciência.
 Ao fim e ao cabo é uma revolução que se operou na maneira de pensar a tecnologia artística, relacionada sem dúvida com razões sociológicas e culturais.

“Algumas considerações sobre a investigação na prática teatral”  – Paulo Alves Pereira
 O estudo sobre a prática teatral não pode ser relegado para segundo plano, nem pode ser considerado como algo inferior à formação noutras áreas do saber.
 Se em relação aos ramos teóricos do teatro, estes se encaixam perfeitamente dentro dos trâmites adoptados pela academia para com outros cursos, em relação aos ramos práticos, pela sua própria inerência, a sua investigação requer uma outra dimensão, exigindo uma grande conjugação entre a praxis e a análise teórica e vice-versa, tendo impreterivelmente de incluir o próprio acto de criação como parte essencial dessa investigação.

 “Retrato de um projeto + outras reflexões”  - Tiago Porteiro
 Este primeiro encontro que a Escola de Artes em boa hora decide organizar, parece-me ser a vitrine ideal para conhecermos, antes de mais e de forma mais concreta, o trabalho que cada um de nós tem vindo a desenvolver no âmbito da Investigação e(m) Artes.  Não será este o primeiro passo que teremos de dar para melhor definir a especificidade da nossa(s) identidade(s)? 
 O Projecto que seleccionei para aqui apresentar, projecto que contém múltiplas valências associadas e que tem vindo a ser desenvolvido no seio do CHAIA (2010 - ) - Em torno da pedagogia de Jacques Lecoq - integra, para além dos seus conteúdos específicos, algumas ingredientes susceptíveis de serem analisados: realização de um curso especialização profissional, desenvolvido em parceria com instituições e com companhias teatrais de todo o país com credibilidade confirmada, que articula pedagogia, criação e investigação e que nos participantes envolvidos encontramos alunos, profissionais em formação e artistas em criação; um seminário de encontro e reflexão com artistas formados em Escolas do Método Lecoq (que residem e que trabalham em Portugal), que tem como objectivo o poder correlacionar herança formativa comum com obra artística realizada; tradução (para Português) e publicação do livro de referência do reformador teatral em questão.
 Toda a investigação daqui resultante consubstancia-se a partir dos materiais produzidos nestas diferentes acções. Importa salientar que no trabalho de campo e no tratamento dos dados já realizados estiveram envolvidos alunos que deram os seus primeiros passos nas práticas de investigação.
 A exposição de um projecto com este formato proporciona o levantar de um conjunto de questões que teremos, actualmente e por razões de sobrevivência, de saber afrontar. Nomeadamente: no contexto das Universidades com quem e para quem queremos desenvolver Investigação e(m) Artes? Que mudanças e que sinergias teremos de realizar para nos ser possível continuar? 

“Investigação em Música –  questões e desafios”  - Vanda de Sá
 Os estudos sobre música devem hoje ser entendidos a partir de duas componentes fundamentais: a performativa e criativa e a componente teórica e reflexiva. Do alargamento de perspectiva resultante desta dupla condição importa questionar os modelos de investigação, no sentido de questionar ausências, exclusões, rotinas. Do aprofundamento das questões próprias à investigação artística e da complexa relação entre a prática e a teoria, pode resultar uma apropriação de áreas de investigação específicas e definidas cujo alcance se faça sentir no ensino superior da música de uma forma constante e fértil.

"Equações e desafios da investigação científica em Design: retroatividade entre prática e teoria."  - Inês Secca Ruivo
 O debate internacional sobre o que é investigar em Design nos modelos de Bolonha tem mais de uma década. Não obstante as diferentes perspectivas da academia sobre esse tema, as Artes no geral têm um desafio partilhado: identificar, sistematizar e construir processos e modelos de investigação reconhecidos como científicos pelos pares dentro das mesmas áreas de investigação, mas também inequivocamente reconhecidos como científicos por  parte de outras áreas do conhecimento.
 Em Design, uma das questões de base em que assenta esta problemática sedai-se precisamente na equação processual das diferenças metodológicas e de resultados alcançados através do investigar pela prática versus investigar sobre a prática.
 Quer num quer noutro cenário, quando falamos de orientar um processo de investigação em Design,  deparamo-nos com o desafio de fornecer ao estudante as ferramentas que lhe permitam desenvolver um pensamento sistémico de busca e encontro, reconhecido, da metodologia a adotar. Os modelos atualmente vigentes são múltiplos a esse nível. Na comunicação a fazer serão postas à reflexão algumas das questões que subjazem a estas demandas. 

“Ver o pensamento a correr: Arte, investigação e contraditórios” - Sandra Leandro
 A investigação em Arte é uma área com poucos anos de consciencialização no domínio académico. Esta é uma das razões que gera desconfianças, mal entendidos mútuos e perpétuas implicâncias que a fazem avançar em passada lenta. No processo de concepção do objecto artístico, a obra apresenta-se por vezes como espaço ambíguo, algo que vagueia, estrutura inexplicável, jogo aberto em constante devir e permanece como enigma para muitos que o pretendem decifrar. O carácter singular da investigação em Arte, mas também da investigação sobre Arte, reclama um espaço próprio. Partindo das expressões artísticas como lugares onde se «podem viver perigos em segurança», onde se geram activos tóxicos, sensações, percepções, instrumentos de pensamento, chaves de leitura, fontes de conhecimento, importa considerar a sua natureza particular. Obstáculos da realidade actual exigem uma investigação específica. Resolvê-los pode ser um sonho técnico… Como ultrapassar alguns contraditórios? É atribuída a Platão uma frase que pode ajudar a pensar alguns caminhos: «Quem melhor conhece o instrumento não é quem o fabricou, mas quem nele toca»... 

"Investigação em Arquitectura. Uma aproximação metodológica"  - Marta Sequeira

A investigação académica em arquitectura tem sido, genéricamente, uma actividade teórica que se tem afastado do âmago da disciplina e orientado para âmbitos complementares, como o histórico, o construtivo e o tecnológico. No entanto, seria natural que a actividade da prática projectual se tornasse o centro de uma investigação avançada nesta área científica. Por outro lado, este almejo exige o aparentemente impossível: que a experiência particular da concepção arquitectónica - supostamente intuitiva e irrepetível - se transforme num veículo para o conhecimento universal. De que modo poderá então ser estabelecido um novo paradigma, desmistificando-se e concretizando-se o conceito de investigação e formação avançada em arquitectura com base na investigação em projecto? Lançar uma hipótese, é o objectivo desta comunicação.

“Elementos para uma Filosofia do Habitar”  – Jorge Croce Rivera

A intervenção visa apresentar o delineamento de uma linha de investigação sobre o Habitar, que procura conjugar o aprofundamento filosófico da noção mesma de habitar – que envolve aspectos ontológicos e antropológicos, éticos e estéticos – com outras aproximações disciplinares que recorrem de diferentes modos a essa noção: a arquitectura e o urbanismo, a geografia e o desenvolvimento sustentável, a estética e a ética da paisagem, a arqueologia e a história das técnicas e da ciência. A especificação da investigação num dos temas em estudo – “A Ambivalência da Subjectividade na Idade Secular” permitirá ilustrar a complexidade da investigação, bem como sugerir áreas de interesse para outras linhas de investigação em Artes.